O que tudo vê.
O que tudo sabe.
O que aqui estava quando não estávamos ainda.
O que conhece nosso rosto antes mesmo do nosso nascimento.
O que nos guia em nossa distração.
O que é rude e áspero por ser entendimento em estado bruto.
O que nos cuida quando perdidos.
O que nos reconduz ao nosso coração quando farrapos.
O que nos reconcilia com o escuro de dentro e com o excesso de luz lá de fora.
O que nos permite as canções da lua e a coragem do amor.
O que nos ampara quando caídos erramos pelos subterrâneos.
O que é água quando somos sede.
O que não diferencia sonho e realidade.
O que não nos permite desistir.
O que nos quebra os ossos quando hesitamos ante o necessário.
O que nos desperta quando o engano nos seduz.
O que é mais Velho do que o mais velho de nossos desejos.
O que é pensamento em perpétua sedimentação.
O que é larva no interior de nossa memória.
O que é futuro arcaico e passo firme em direção ao amanhã.
O que se desdobra sempre e outra vez.
O que com seu sopro faz emergir na árvore de Tempo a face do que somos.
O que é o que sempre desconhecemos de nós mesmos.
O que nos acompanha, nos cura e nos mata, com amor e ferocidade.
O que é, simultaneamente, terror e delicadeza.
O que habita a Pedra e a Palha.
O que nos cura.
O que nos mata.
O que nos escuta.
O que dança e não nos abandona.
O que sabe da formação geológica da terra e das almas.
O que se transmuta em pássaro quando quer voar.
Em serpente quando quer guiar.
E em esquecimento quando quer nos proteger do Nada e seus maus agouros.
O que é mais velho e mais terno
- pois mais caminhos já percorreu nessa gira.
O que aqui ainda estará quando nós já não mais estaremos.
O Senhor que habita a Pedra, a Palha e o destino das almas deste mundo.
O que tudo vê.
O que tudo sabe.
Siga guiando nossos passos.
Siga regendo nossa peregrinação.
Além.
nuno g.
toróró, 09/08/22.
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