quarta-feira, 22 de junho de 2022

O caminho das almas ou o teleférico fantasmagórico

O óleo da caixa de câmbio vazou em Teofilândia

Atravessamos o deserto mais uma vez

No Ibó as sertanejas mãos de Jean voltaram a encher de óleo a caixa

As águas do São Francisco estavam mais calmadas que de costume

E todos falavam sobre a colheita das cebolas

As engrenagens da quinta marcha colaram definitivamente

As mãos sertanejas de Jean as arrancaram como quem arranca as vísceras de um pirata

Uma coruja de olhos esbugalhados seguiu caminho conosco

Alice falou do Bené e da Inaê

Mastigamos beterraba, couve e carne assada

O resto da viagem foi desapressada

E quando o sol se pôs já estávamos no meio da floresta do Araripe

Tomamos cumaru, fizemos uma fogueira

Brincamos de macaca e cozinhamos o milho que Luís plantou

Falamos sobre sonhos e sobre o Senhor da Vida e da Morte

Deayunamos frutas com aveia e café negro

Trezentos anos ou a eternidade

E nossos passos entrando no vagão do metrô

E nossos passos cruzando o coração da cidade sagrada

Os olhos do padre Cícero pousados sobre nós

Como as asas do gavião sobre o açude

Ou o clarão da lua sobre a noite imensa

Tomamos mais cumaru e conversamos sobre o pesadelo fascista que nos assola

Chico catou entre as ferragens as engrenagens da quinta

Recordei do velho Aranha e Alice falou sobre a Débora

Assistimos Tico & Teco, comemos baião-de-dois e pizza

O Velho nos abençoou com a palha

E pegamos outra vez a estrada rumo ao fantasmagórico teleférico do Caldas...


nuno g.

Crato, 18 de junho de 2022.

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