terça-feira, 7 de junho de 2022

entre feiticeiros e despertencimentos.

chove sobre a colina sagrada

o frio penetra minha omoplata

sem pedir licença

acende a bursite

o chão de lama, escorregadio

e a cidade com seus paralelepípedos centenários

e sua ponte de ferro & ferrugem & tempo

os gatos invadem a casa

como os degraus da escadaria amarela

invadem os sonhos

chove sobre a colina sagrada

ao longe, a pedra da baleia e um saveiro

venta e no vento vêm vozes e mais vozes

de aquém, de além, de cima, de baixo da direita e da

esquerda da esquerda da

chuva que cai sobre a colina sagrada

da chuva que molha os centenários paralelepípedos

da chuva que afoga todas as coisas de ontem de anteontem

como a areia da sepultura da serpente

apenas os olhos expostos ao sol

o frio, a guerra, o parapeito de madeira e estrela

tudo se move como se movem as pedras

a cidade, o vento e as frutas pintadas a óleo

os gatos, o som da casa de farinha, tilintar de copos e nada

aos palmos medindo a distância de todas as órbitas

e cruzando o mundo como um trem mineiro fora dos trilhos

abarrotado de bugigangas


nuno g.

Toróró, 07 de junho de 22.


Um comentário:

  1. a chuva, da Senhora das Águas, os gatos dos Senhores Marujos, o trem de Minas que saiu do fundo da chapada de diamantes, o desgoverno da Roda da Fortuna, o frio nos ossos dos antigos, a beleza do poeta das colinas e dos sertões...

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