chove sobre a colina sagrada
o frio penetra minha omoplata
sem pedir licença
acende a bursite
o chão de lama, escorregadio
e a cidade com seus paralelepípedos centenários
e sua ponte de ferro & ferrugem & tempo
os gatos invadem a casa
como os degraus da escadaria amarela
invadem os sonhos
chove sobre a colina sagrada
ao longe, a pedra da baleia e um saveiro
venta e no vento vêm vozes e mais vozes
de aquém, de além, de cima, de baixo da direita e da
esquerda da esquerda da
chuva que cai sobre a colina sagrada
da chuva que molha os centenários paralelepípedos
da chuva que afoga todas as coisas de ontem de anteontem
como a areia da sepultura da serpente
apenas os olhos expostos ao sol
o frio, a guerra, o parapeito de madeira e estrela
tudo se move como se movem as pedras
a cidade, o vento e as frutas pintadas a óleo
os gatos, o som da casa de farinha, tilintar de copos e nada
aos palmos medindo a distância de todas as órbitas
e cruzando o mundo como um trem mineiro fora dos trilhos
abarrotado de bugigangas
nuno g.
Toróró, 07 de junho de 22.
a chuva, da Senhora das Águas, os gatos dos Senhores Marujos, o trem de Minas que saiu do fundo da chapada de diamantes, o desgoverno da Roda da Fortuna, o frio nos ossos dos antigos, a beleza do poeta das colinas e dos sertões...
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