terça-feira, 29 de junho de 2021

T r a n s o m á t i c a, por Margarida Vale de Gato


De que carne cá dentro vem

aquilo que em mim tenta e pode

escrever o que estou lendo

de outrem?

           Não propriamente posse —

antes uma disposição

que internamente se impõe:

o corpo inteiramente votado

ao trânsito dum longo transe.


Não sei de que mais me envolva

tantas horas – nem dos distúrbios

do amor e respetivo sexo.


Cúpida presa mira longe texto.


Correntes desenrolam-me outra

coisa que não seca, conquanto

subam e desçam, carrossel

esconso, áspero silvado

ora escarpa, ora dossel

fluvial, Ó quanta líbido

discípulos da vertigem (à

falta de mais certeiro nome —

sanguíneo pneuma?) pode

trasladar a carne o canhão

para a fome espiritual?


Margarida Vale de Gato 

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