nunca foi exatamente uma cidade
uma rocha na água, uma pedra
coberta de sal
nunca foi exatamente um lugar
uma memória de uma memória
apagada
algo feito do que antecede a
palavra
recife,
sempre sucedida por uma vírgula
uma queda e outra queda e
tubarões lendários e interdição
recife,
só tempo sem densidade
calabouço de reticências e
reticências e sal
nunca foi exatamente um carnaval
recife,
sem trocadilhos
sem marasmo
um cinema
um rio
uma farmácia
uma queda que não cessa
recife é uma fenda dentro
uma fenda que separa o músculo do
osso
a carne da alma
nunca foi exatamente um porto
nem uma estação ferroviária
recife,
marco zero de uma falta
nuno g.
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