terça-feira, 18 de agosto de 2020

recife

nunca foi exatamente uma cidade

uma rocha na água, uma pedra coberta de sal

nunca foi exatamente um lugar

uma memória de uma memória apagada

algo feito do que antecede a palavra

recife,

sempre sucedida por uma vírgula

uma queda e outra queda e

tubarões lendários e interdição

recife,

só tempo sem densidade

calabouço de reticências e reticências e sal

nunca foi exatamente um carnaval

recife,

sem trocadilhos

sem marasmo

um cinema

um rio

uma farmácia

uma queda que não cessa

recife é uma fenda dentro

              uma fenda que separa o músculo do osso

a carne da alma

nunca foi exatamente um porto

nem uma estação ferroviária

recife,

marco zero de uma falta


nuno g.

Nenhum comentário:

Postar um comentário