segunda-feira, 8 de maio de 2017

alívio, paralelepípedo de muitos lados.

nem todo mundo está pronto / pra receber as lições azuis do parto / tem gente que se afoga no próprio leite / tem gente que arma arapucas / tem gente que mata passarinhos / tem quem não mereça a cusparada que recebe / tem quem pense encontrar na morte a liberdade / tem quem ache que esquecimento se vende em farmácia / tem gente que é larva / gente que é vírus / gente que é lixo / nem todo mundo está pronto / pra receber as lições azuis do parto / tem quem ache que a vida é farra / tem quem sabe que o mundo é fera / tem quem pense ser possível ignorar o musgo da ressaca / tem gente que é vento / tem gente que é pedra / tem gente que é água / nem todo mundo está pronto / nem todo mundo é gente / pra uns o arco-íris é belo / pra outros é fardo / esporro / escarro / tem gente que é fogo / tem gente que é poeira / tem gente que é nada / tem gente que vive / tem gente que atrapalha / tem canto que é carne / tem quem não vale a maconha que fuma / tem canto que é faca / tem gente que é fardo / tem canto que é alma / tem gente que é só disfarce: que não vale sequer a pica que chupa / tem quem faz do próprio ego – régua medida compasso – imperativo ético da própria desgraça / nem todo mundo está pronto pra ter coração de palha / pra se deixar acolher no ninho e ser dádiva / tem gente que é nuvem: uva que apodrece antes de virar passa / tem poema que se faz com espinho & promessa de umidade / tem poema que é verde e dá flor / tem poema que é belo & áspero / tem poema que é resistente & delicado / tem poema que é cactos: oração de 116 bodes & 116 cabras.

nuno g.

Cachoeira, 18 de abril de 2017

Um comentário:

  1. nem todo mundo canta
    ora sacana ora o troco
    todos esses viventes o nosso senhor deixou andar pela terra
    assim alguma sina vale deve valer tem q viver essa escarrada


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