sábado, 12 de julho de 2025

dança folclórica

     Outra vez, o Sol. O que aqui neste tempo e lugar é o mais próximo do que conhecemos por milagre. As ausências nos saudaram ao caminho, inevitável. A avenida, fechada, virou chão de baile e memória. E aquela beleza que nasce das mais antigas dores se exibiu ante nossos olhos. Máscaras, lamentos, esporas, chicotes, espectadores com olhares perdidos, autoridades à sombra, cães, crianças e uma serpente colorida traçando indecifráveis arabescos no asfalto. A barca que corre no mar, corre no meu coração. Até aqui chegou aquele vento. E com ele a memória da faca atravessando o peito de Judite. E com ele a faca atravessando o peito de Alzira. E com ele a terceira faca nas mãos pacíficas de Hermenegildo. O arco-íris e uma centena de pequenos insetos ruminantes cavando túneis no ventre da terra. Fazia tempo que meus joelhos não sangravam uma oração. Tem dias que nos esperam com mais promessas que as que merecemos. Não sendo filósofo, pode dizer coisas que estavam além da compreensão. Apenas os vestígios de que esteve aqui um dia seriam suficientes, mas esses também se desfizeram quando o sol desapareceu mais uma vez no horizonte de prédios, escamas e urbanas alucinações.


nuno g.

Lima, 12 de julho de 2025  

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