para Maria Zilá Lima Gonçalves,
(in memoriam)
Também de coisas desastrosas somos feitos: nós e o mundo.
Dona Antônia sonhou com aipim e comentou: aipim é vela!
A morte à espreita na margem do rio:
a morte e outras serpentes sonâmbulas.
Temos que estar preparados para tudo: o mundo e nós.
Alguns aipins cozinhavam e outros ficavam duros: nisso o espírito do sonho.
E as lágrimas desceram dos olhos vermelhos de Hermenegildo.
Seu aceno quase não escondia o ferimento.
Aos pés de minha avó, em sua memória e presença.
Encostei delicadamente a cabeça e morri mais uma vez.
A noite trouxe a calmaria das unhas ainda cheias das areias com que enterraram o ódio.
E no céu uma lua que olhava minha cabeça aos pés de minha avó.
A noite trouxe a certeza que as certezas não existem.
E a estrela que ensina que enterrar importa tanto quanto desenterrar.
Uma vela é mais que suficiente para nos recordar a relevância do escuro.
nuno g.
Toróró, 01/08 de março de 2025.