domingo, 14 de julho de 2024

Devoção II

 para Lou Reed & Nico,


O médico cubano me ligou ainda cedo.

Tardei a identificá-lo.

Me disse que tem três filhas.

Que vai vir à uma obrigação de terreiro.

E que muito deseja me rever.

Assucena comeu brócolis com banana.

A vida é um pesadelo com infinitos labirintos dentro.

Anos atrás Alice fez birra grande.

A praça da Sé de Avalon lotada.

Mestre Aldenir e seu reisado. 

Se jogou no chão.

Gritou. Chorou. Esperneou.

Em nada parecia a Alice que eu conhecia.

Decidi seguir como se nada.

Cerveja. Dança. Alegria dos Mateus à praça.

No outro dia ela com calma disse:

Pai, sabe por que eu fiz birra ontem?

Nem ideia.

Pra você não esquecer que eu sou criança.

As mãos de Benício juntas às mãos da lua entre as nuvens.

Três onças seguindo Hermenegildo em sua montaria.

A garota do São Judas dormindo quase em paz.

O médico cubano me arrancou do pesadelo.

A vida é um labirinto com infinitos pesadelos dentro.

Voltei a fumar como antes.

O excesso de nicotina provoca um êxtase suave e delicado.

Talvez algum dia eu narre ao médico cubano.

Algo sobre em terreiros florescerem estrelas suicidadas.


nuno g.

Toróró, 14 de julho de 2024.

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