segunda-feira, 17 de janeiro de 2022
Quando tudo era mato
quando tudo era mato
só havia Caminho e Mistério
ainda a Morte
era Caminho era Mistério
quando tudo era mato
e ainda não havia nenhum labirinto
também o Terror
era Caminho e Mistério
quando tudo era mato
nasceu Dan – e com ela todas as cores
quando tudo era mato
tudo era Caminho era Mistério
até que Dan acendeu no coração das águas o fogo
entre o Terror e a Morte
entre o Tempo das coisas que ainda não chegaram
e o Tempo das coisas que não terminaram de dissolver
tudo era mato – Caminho e Mistério
o Terror era o Temor que nos albergava do labirinto da história
a Morte era quem nos acarinhava
e o Nada seguia sendo desconhecido
nossas mãos eram mais singelas
e delas emanava mais amor mais alegria
quando tudo era mato
as escamas do céu
também eram Caminho e Mistério
imenso escudo Azul e Amarelo
nos guardando do labirinto das feras
Dan, enrolada na árvore chamada Tempo
regressava assim aos confins do íntimo
ao Tempo onde tudo era mato
e o Nada não havia ainda
quando tudo era mato
o Povo da Palha se deixava ver
e sua voz se ouvia
quando tudo era mato
as plumas de Dan
reinavam sobre a memória do labirinto
as plumas de cores
entre o fogo e as águas
entre o mato e o mato
entre o Amarelo do ouro e o Azul
entre o Amarelo do mel e o Azul
entre o escudo e os olhos
entre os nossos pequenos sonhos noturnos
e o grande Sonho desse pássaro chamado Noite
que dorme na árvore de Tempo
junto a Dan, a serpente que traz todas as cores
quando tudo volta a ser mato
e ante a inexistência do Nada
tudo volta a ser o que era – Caminho e Mistério:
as escamas coloridas no céu
nos protegem uma vez mais do Terror da história
e do labirinto absurdo onde reina o Nada.
nuno g.
16 de janeiro de 2022.
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