terça-feira, 7 de dezembro de 2021

gira de Mateus

                     para Claudio Reis,


todas as Marias são palestinas



Eles chegaram e bailaram a noite inteira

entre as nuvens e o cume da chapada

entre as árvores de Tempo

e as águas do amanhecer



todos os soldadinhos do Araripe são palestinos



Eles bailaram a noite inteira

entre meus sonhos trôpegos e o Sonho límpido da terra

entre o tempo das árvores

e as águas do entardecer



todos os espíritos são palestinos

inclusive os que nos estendem a mão

quando os rumores nos ameaçam



Eles sabiam que ali estavam guardados

e sob o escudo Azul ergueram a ciranda-matriz

colunas de salamandras e batalhões de encantados

ao som de pífanos e zabumbas

Eles também se sabiam palestinos

e desconheciam qualquer hesitação.



Eles dançaram a noite toda

entre as estrelas e as estrelas da madrugada

Eles eram muitos e tinham nomes sagrados:

Cachoeira, Mosquito, Império.

Margaridas de couro cravejadas no peito

e os três caminhos selados nas palmas do espelho.

Eles eram palestinos e herdeiros

e nunca nos deixaram esquecer

que até o mais agônico cortejo

é regido por uma austera e faiscante alegria.



Eles bailaram a noite toda

e como os Magos Reis da antiguidade

foram guiados por Vênus e Andrômeda

até o terreiro sagrado de Mestre Aldenir

xilogravado na lira esmerada de Walderêdo Gonçalves.



guiados pela lua

abriram os três caminhos:

fertilidade, delicadeza, alegria:

e a memória das coisas que nunca se devem esquecer.



Toróró, 07 de dezembro de 2021.

nuno g.

Nenhum comentário:

Postar um comentário