segunda-feira, 15 de novembro de 2021

15 de novembro.

Aqui chove.
E chove muito.
Chove como se chovesse sobre todo meu passado.
E ouço o som de cada gota sobre este telhado.
E olho esta casa que os deuses me deram.
E ouço cada som da chuva banhando este lugar.
E penso em todas as vezes que me pensei um corpo atado.
Um corpo interditado.
Um corpo sem vereda e sem atalho.
Minha pressa se desfaz e o rio segue sangrando.
Como um coelho degolado por um cão assustado.
Ou como um arbusto decepado pela fúria de um facão.
Aqui chove.
E o gosto de suas coxas não sai da minha boca.
Sou só saliva e barro.
E meus joelhos são penitência e oração.
A república ruiu - e com ela todas as fantasias eróticas da política.
Nenhuma semiótica no quintal.
Só a chuva.
Esta casa.
E a brasa do cigarro recordando uma antiga combustão.

nuno g.

6 comentários:

  1. Oi Nuno, saudades de Ti e das suas poesias! Abraços.

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  2. Adoro a força da chuva!!! Como sua poesia me remete as lembranças da chuva quando eu era criança.Adorava observar os círculos de água que se formavam no chão em pequenas poças de água. Gratidão poeta por avivar essas memórias. Vânia Joly

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  3. Boa demais essa chuva poética! Também tenho meus insights chuvosos... Quando quiser, passe lá: lulupisces.blogspot.com

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