Tropecei, esta noite,
Num verso mais que estranho,
Único verso presente em todos os poemas reais
Ou possíveis de todas as línguas do mundo:
Primeiro hieróglifo, emblema de Hermes Trimegistos.
Verso em si ilegível e vazio embora necessário,
Verso perverso
Que nos condena a retornar, obliquamente,
A todos os poemas escritos até hoje,
E todos os futuros,
Um gonzo fechando,
Por dentro, um cubo hermético-metálico,
Que, mônada, espelha, em seu imo, todo o mundo externo.
Começo e fim de toda poesia,
Ou seu constante recomeçar?
Delirei, esta noite,
Um único verso,
(uni-verso),
que poeta algum jamais escreveu,
Face infinitesimal do Grande Diamante da Poesia ou do Ser,
Acesso a todos os demais versos,
Que se mostram, simul, ao leitor
Que eles próprios, nesse instante, criam.
Mas foi apenas um vislumbre:
Uma vez iluminado o Grande Diamante,
O verso volveu à sua aparente vacuidade
E dissolveu-se-lhe a cumplicidade com todos os demais,
Devolvendo-me ao ritual de meu dia-a-dia,
Mergulhando-me novamente em meu Não-Ser.
Bento Prado Jr.
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