tinha uma escada no meio do caminho
no
meio do caminho tinha uma escada
nunca
me esquecerei que tinha uma biblioteca no último degrau
uma
biblioteca dedicada ao Nada
tinha
uma escada no meio do caminho
tinha
os cem olhos da tempestade de areia fina
tinha
a pintura de uma moça com brinco de pérolas no meio do caminho
e
os cem mil raios da Senhora,
tinha
um vazio no meio do caminho
nunca
me esquecerei do beijo que não tinha no meio do caminho
nem
da escada nem da biblioteca nem do nada
no
meio da escada tinha um caminho
mas
não são todos que desviam no meio das escadas
tinha
uma tempestade no meio do caminho
tinha
uma manta assurini awaeté no meio do Sonho
e
do mirante da casa do guarda do Belmonte se via
a escada, a biblioteca,
o
Nada, a Sina e o Vazio
nunca
esquecerei que tinha um caminho no meio da escada
nem
que no meio da escada tinha um caminho
e
que quase ninguém desvia em caminhos no meio de escadas
ainda
quando estes levem às cascatas de águas frescas
correndo
entre antigos pés de buritis
tinha
um silêncio no meio do caminho
no
meio do caminho tinha um silêncio
e
toda a potência que um corpo necessita:
seja
para desviar-se do previsto
ou
para escalar a escada até o topo
dez
de dezembro.
Potência poética, alto grau de existência...
ResponderExcluir