É
tudo muito estranho. Demasiado cinzento tudo. Andamos andamos andamos e nada
surge no horizonte. Nenhuma cidade. Nenhum rio. Nada de novo na paisagem. As
mesmas colinas, as mesmas palavras, o mesmo ritmo. O trem caminha para o
abismo. Isso é irreversível. Assim como nós caminhamos pra morte. Joelhos
ensanguentados no chão. Reverência. Agradecimento. Tédio. Náusea. Apatia. E
essa leve sensação de que todas as vísceras estão definitivamente fora de
lugar...
O
mundo deu outra volta. O mundo dá muitas voltas. Algumas a nosso favor. Outras
contra. Os fracos ficam esbagaçados pelo meio do caminho. Simplesmente é assim
que a coisa toda funciona. Nada além disso. Ou você é forte o suficiente para
desfrutar das ondas favoráveis e sobreviver às que desabam sobre você ou você é
só uma vítima de nada disfarçado de ser humano. Não há muito o que fazer além
disso. Segunda-feira de manhã nada parece muito misterioso nem enigmático. Tudo
está claro. O horizonte está limpo. O mundo vai seguir dando voltas. Algumas a
nosso favor outras contra nós. Só nos resta ser mineral o suficiente pra não
ficar pelo caminho. Choramingando como um imbecil que desperdiçou todo o amor e
viu escorrer entre os dedos todas as oportunidades de atingir a perfeição.
Acordo. Abro os olhos. E penso. O que é realmente importante agora? E isso é
tudo. O resto é ignorância e escuridão. O resto é egoísmo. O resto é desprezo,
cinzas e a infinita estupidez humana.
nuno g.
Cachoeira, 06 de março de 17.
Nenhum comentário:
Postar um comentário