para claudio reis
& marialice & virginia
era noite, fazia calor e um anjo percorria a madrugada da
cidade de Kraterdam
era noite, alta lua despencava sobre os fósseis
era noite, havia uma fogueira acesa e estávamos ali
os três, inteiros, cada um com suas próprias sentenças no
olhar
era noite, fazia calor, éramos seis mãos em busca
éramos a
lenta respiração da terra
havíamos retornado a pouco da casa da bruxa
no alto da serra
lá comemos, tomamos cervejas, fumamos e conversamos e
conversamos e
alice brincou com os animais do jardim
deliciou-se com o escorregador de madeira e o balanço de
pneu
desfrutou do balançar da rede
recebeu com graça os paparicos que as bruxas grandes devotam
às recém-iniciadas
o guru, em silêncio, apenas sorria
o guru, sem ansiedade, me apresentava outra vez o horizonte
e sentia certo regozijo ante a cegueira que a desesperação instalara
em meu coração
o guru, desacreditava aquela desmedida toda
desfazia inocências
a bruxa fez feijão verde
cozinhou cuscuz tapioca fez chá & café no bule
cozinhou carneiro jogou o tarot e recebeu as senhoras pra
tirar o terço
levamos uma nossa senhora azul numa casinha de madeira
uma ressaca leve
& ossos & cinzas & catarro & sede &
lembranças boas
faz tempo que essa noite passou
mas hoje algo dela respira aqui
algo do horizonte que se abriu naquela noite
&
que foi o começo de um fim que parecia não ter fim...
nuno g.
Cachoeira, 09 de outubro de 2016.
Acalentadora. Familiar essa narrativa. Parece que eu estava lá.
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