domingo, 9 de outubro de 2016

ode à chapada do araripe & à cavalaria sertaneja



para claudio reis & marialice & virginia

era noite, fazia calor e um anjo percorria a madrugada da cidade de Kraterdam
era noite, alta lua despencava sobre os fósseis
era noite, havia uma fogueira acesa e estávamos ali
os três, inteiros, cada um com suas próprias sentenças no olhar
era noite, fazia calor, éramos seis mãos em busca
                                       éramos a lenta respiração da terra
havíamos retornado a pouco da casa da bruxa
no alto da serra
lá comemos, tomamos cervejas, fumamos e conversamos e conversamos e
alice brincou com os animais do jardim
deliciou-se com o escorregador de madeira e o balanço de pneu
desfrutou do balançar da rede
recebeu com graça os paparicos que as bruxas grandes devotam às recém-iniciadas
o guru, em silêncio, apenas sorria
o guru, sem ansiedade, me apresentava outra vez o horizonte
e sentia certo regozijo ante a cegueira que a desesperação instalara em meu coração
o guru, desacreditava aquela desmedida toda
                                                     desfazia inocências
a bruxa fez feijão verde
cozinhou cuscuz tapioca fez chá & café no bule
cozinhou carneiro jogou o tarot e recebeu as senhoras pra tirar o terço
levamos uma nossa senhora azul numa casinha de madeira
uma ressaca leve
& ossos & cinzas & catarro & sede & lembranças boas
faz tempo que essa noite passou
mas hoje algo dela respira aqui
algo do horizonte que se abriu naquela noite
&
que foi o começo de um fim que parecia não ter fim...


nuno g.
Cachoeira, 09 de outubro de 2016.

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