o som da missa invade a casa.
maria dorme.
fumo um cigarro atrás do outro e cozinho um jerimum para fazer um caldo.
a noite tem reggae na praça.
faz tempo que não vou a uma festa de largo.
queria que as minhas palavras roçassem a língua dos anjos.
ressuscitassem o viço que os sucessivos naufrágios afogaram.
e povoassem o meu esôfago de lactobacilos.
a vizinha lava roupas,
ouço a água escorrendo e sinto o cheiro de sabão.
a vizinha cultiva passarinhos em gaiola,
maria bola planos infalíveis para libertá-los.
faz tempo que nenhuma mulher me devora.
as vezes sinto saudade do despertencimento que habita o corpo depois do coito.
a missa termina e o silêncio me convida a dormir um pouco mais.
separo resquícios do que fui e junto à couve para a sopa.
maria virou vegana, misturo seu sonho às ervilhas que separei para o pequeno-almoço.
quando acordarmos ainda haverá uma infinidade de máscaras a se desfazer.
fazia tempo que o Indecifrável não soprava com tanta força,
os ventos que descem das colinas provocam marulhos & mirações.
nuno g.
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