A tirania é uma arte difícil.
Delicada.
Abarrotada de sutilezas.
É preciso conservar súditos.
É deles que emanam todas as
regalias.
As da mesa.
As da cama.
As simbólicas.
O tirano crê que os súditos o amam.
Ainda quando cria exércitos que o
defendam.
O tirano necessita dessa crença
para ser o que é.
A raiva, o ressentimento e a
crueldade dos súditos.
Não são para o tirano nada além de
ingratidão e injustiça.
Injustiça por macularem as regalias
que fazem de um tirano um tirano.
Ingratidão por desrespeitarem o
dogma de que o tirano é magnânimo.
A tirania é uma arte difícil.
Exige uma imagem pública
atualizada permanentemente.
Exige que a distância e o
alheamento do outro sejam punidas uma e outra vez.
Como a recordar ao coração do
súdito que o fundamento daquela relação.
É o próprio amor que ele projeta
no amor-próprio do tirano.
Por isso o mais grave que pode
chegar a cometer um súdito.
É assumir que sim já há muito
deixou de amar o tirano.
A tirania é uma arte difícil.
Como a pistolagem.
Como a tortura.
Como as artes ornamentais.
O tirano deve possuir cinismo
suficiente para exibir-se frio como o gelo.
O tirano deve conhecer todas as
técnicas de vampirismo.
Das orientais às ocidentais.
O tirano não é nada mais do que um
coração vazio.
Um espírito fútil e frágil que
necessita.
Da luz.
Da grana.
Da compaixão.
Que emana dos súditos.
Súditos que ele acredita desesperadamente.
Que por tê-lo amado um dia.
O seguirão amando sempre.
E serão sempre incapazes de
pronunciar a palavra não...
nuno g.
nuno g.
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